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MICROPOLÍTICA COMO PRÁTICA ARTÍSTICA, ARQUITETÔNICA E SUBJETIVA

Vivemos em uma era de expectativas e esperanças decrescentes em relação a um futuro que se encontra impossibilitado. 

Impossibilitado pela ruína do capitalismo global que se acumula e nos escraviza através da autoexploração, nos isola ao nos submeter a uma violência cotidiana, ao transformar a socialidade em mercadoria e ao desterritorializar nossas subjetividades individuais e coletivas. Vivemos um tempo de paradoxos e caos, e talvez a produção de subjetividade sob o paradigma da micropolítica e do afeto possa nos auxiliar nesse processo. Através do entendimento da prática política no espaço cotidiano (micropolítica), desempenhada por todes, como prática artística, arquitetônica e subjetiva. Paradigma que tem a potencialidade de atuar de maneira insurgente através do afeto, no espaço cotidiano.

Obra: "Undercover by moonlight" (Disfarçado à luz da lua)(imagem 1), do artista francês Ememem. Disponível em: Ememem site officiel

"Um "cirurgião de pavimentos" é como chamam ao artista Ememem, por reparar calçadas e muros rachados com estes coloridos mosaicos de cerâmica. Disfarçado à noite pelas ruas de Lyon, na França, Ememem procura por paredes danificadas e pequenas crateras no asfalto, disposto a "consertar a rua e o coração de quem a percorre". Embora associado ao tradicional "kintsugi" japonês - a arte de reparar e aprimorar coisas quebradas - o estilo e técnica do artista é conhecido como "flacking". Trata-se de um termo inventado pelo próprio Ememem a partir da palavra francesa "flaque" [poça]." - A Bienal de São Paulo indica.

Desse modo, podemos entender a prática artística da micropolítica como insurgência inventora de possibilidades de vida para um aqui e agora provável e futuros possíveis. Entendendo a prática política do afeto no espaço do cotidiano (micropolítica do afeto) também como prática arquitetônica, pois atua no espaço cotidiano da vida urbana. Assim a prática artística, política e arquitetônica do afeto atua como dispositivo que possibilita a criação de outros territórios e modos de vida. E se a arte é produtora e reflexo da subjetividade, inventora de imaginários compartilháveis, a arte da micropolítica do afeto pode ser afinal uma das forças profundas que promove as transformações dos mundos.

Sallisa Rosa - umuarama - - Bolsa Pampulha - JA.CA.jpg

Obra: "Umuarama" - Conversa ao pé da fogueira – Sallisa Rosa - Bolsa Pampulha 2018/2019 – Disponível em: Sallisa Rosa (BR) | JA.CA (jaca.center)

E se a arte é produtora e reflexo da subjetividade, inventora de imaginários compartilháveis, a arte da micropolítica do afeto pode ser afinal uma das forças profundas que promove as transformações dos mundos.

A artista Sallisa Rosa traz consigo um trabalho maravilhoso nesse sentido. Em seu trabalho intitulado “Umuarama” realizado para exposição de encerramento do Bolsa Pampulha 2019 ela propõe uma roda de conversa ao pé da fogueira onde foram cozidas mandiocas e peixes e, ao final, oferecido um banquete a todos participantes. Sua “obra” foi a mandioca e sua “apresentação da obra” foi a roda de conversas, ou, Umuarama (O nome é originário de um verbete da linguagem tupi-guarani que significa: lugar ensolarado, alto, de bom clima para encontro de amigos). Sua concepção de arte é outra e esse seu trabalho foi potente em questionar a materialidade e temporalidade do que é arte. Prova disso foi quando o Museu não aceitava receber uma mandioca como obra para o acervo. Sallisa nos demonstra uma outra dimensão na compreensão da arte, do encontro e do alimento, que ganha um valor imaterial inestimável, passando pelo sublime e pelo sagrado.

Obra: "Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca-Cola" – Cildo Meireles, 1970. Fotografia: Pat Kilgore. Imagem: Cildo Meireles - Revista Carbono #4 Texto: Inserções em circuitos ideológicos (Cildo Meireles) — Poro

"Gravar nas garrafas de refrigerantes (embalagens de retorno) informações e opiniões críticas, e devolvê-las à circulação. Utiliza-se o processo de decalque com tinta branca vitrificada, que não aparece quando a garrafa está vazia e sim quando cheia, pois então fica visível a inscrição contra o fundo escuro do liquido Coca-Cola."

CildoMeireles.jpg

©  HORIZONTES IM/PROVÁVEIS  - EDUARDO GARCIA - 2022

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