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MICROPOLÍTICA DO AFETO COMO PRÁTICA ARTÍSTICA, ARQUITETÔNICA E SUBJETIVA

“As artes são pensadas como micropolíticas produtoras de subjetividades e de realidades possíveis e espaciais” (CAMPBELL, 2015, p.23)

A micropolítica do afeto é a prática ética e estética do afeto do amor, comprometida com o coletivo, em cada relação interpessoal e com o meio (espaços e paisagens).

Seria o entendimento da necessidade de se trazer o afeto do amor para o centro das relações, com consciência do seu papel político urgente na contemporaneidade. Essa urgência é abordada por Silvane Silva no prefácio à edição brasileira do livro “Tudo sobre o amor – novas perspectivas” da autora Bell Hooks, assim como a necessidade de se construir uma ética amorosa para a edificação de uma sociedade mais igualitária.

A micropolítica do afeto como prática artística, arquitetônica e subjetiva, portanto, seria o entendimento da produção do espaço e da subjetividade sob o paradigma da micropolítica do afeto.

 

Paradigma que tem a potencialidade de atuar de maneira insurgente no espaço do cotidiano, sendo inventora de possibilidades de vida para um aqui e agora provável e futuros possíveis.

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Obra: "Apoie um artista dando beijo na boca" (2021), Coletivo Joyces. "Dar bandeira", Instalação com quatro faixas. acrílica s/ americano cru 3,80 x 0,80 cm (faixa), 1,35 m (hastes). Disponível em: #JOYCES (@umaquestaodejoyces)

“O que é o amor, afinal? Será esta uma pergunta tão subjetiva, tão opaca? Para bell hooks, quando pulverizamos seu significado, ficamos cada vez mais distantes de entendê-lo. Neste livro, primeiro volume de sua Trilogia do Amor, a autora procura elucidar o que é, de fato, o amor, seja nas relações familiares, românticas e de amizade ou na vivência religiosa. Na contramão do pensamento corrente, que tantas vezes entende o amor como sinal de fraqueza e irracionalidade, bell hooks defende que o amor é mais do que um sentimento — é uma ação capaz de transformar o niilismo, a ganância e a obsessão pelo poder que dominam nossa cultura. É através da construção de uma ética amorosa que seremos capazes de edificar uma sociedade verdadeiramente igualitária, fundamentada na justiça e no compromisso com o bem-estar coletivo. Em uma sociedade que considera falar de amor algo naif(ingênuo), a proposta apresentada por bell hooks ao escrever sobre o tema é corajosa e desafiadora. E o desafio é colocarmos o amor na centralidade da vida. Ao afirmar que começou a pensar e a escrever sobre o amor quando encontrou "cinismo em lugar de esperança nas vozes de jovens e velhos", e que o cinismo é a maior barreira que pode existir diante do amor, porque ele intensifica nossas dúvidas e nos paralisa, bell hooks faz a defesa da prática transformadora do amor, que manda embora o medo e liberta nossa alma. Assim, ela nos convoca a regressar ao amor. Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor pode ser revolucionário.”

Obra: “Plantações de traveco para a eternidade”, Ventura Profana, 2020, desenvolvido para mostra no Centro Cultural São Paulo.

 

"Um dos pontos centrais da pesquisa artística de Ventura Profana (@venturaprofana) é a presença da Igreja evangélica no país. Partindo de um rompimento com a “culpa cristã”, que marca sua história familiar, a artista preta travesti se reconcilia com o passado pra hoje explorar os símbolos da fé, subvertendo-os. No trabalho, Ventura constrói uma edificação para reunir algumas de suas obras que imaginam um “antídoto para o veneno cristão”.

Disponível em: Prêmio PIPA - Instituto PIPA (@premiopipa)

diálogo de oculos - objetos sensoriais - lygia clark.jpeg

A arte contemporânea já se ocupa com as relações sociais (arte relacional), e a arquitetura vem se desmaterializando e se tornando cada vez mais uma tradutora e mediadora entre relações socioespaciais. Portanto, além de se entender a produção do espaço e da subjetividade sob o paradigma da micropolítica do afeto, é possível fazer o caminho inverso e, entender também a micropolítica do afeto como produtora de subjetividade e espaço, ou seja, de arte e arquitetura.

Assim, a prática artística, política e arquitetônica do afeto atua como dispositivo que possibilita a criação de outros territórios e modos de vida.

E se a arte é produtora e reflexo da subjetividade, inventora de imaginários compartilháveis, a arte da micropolítica do afeto pode ser afinal uma das forças profundas que promove as transformações dos mundos.

Obra: “Diálogo de Óculos", "Objetos Sensoriais", Lygia Clark, 1966. Imagem disponível em: Diálogo de Óculos | Acervo | Lygia Clark

©  HORIZONTES IM/PROVÁVEIS  - EDUARDO GARCIA - 2022

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