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CONVERSA

GABRIELA PIRES MACHADO

Arquiteta e Cenógrafa

Professora de Arquitetura e do Urbanismo 

Sobre

"Arquiteta e Cenógrafa interessada no poder da linguagem visual e espacial e intercâmbios estabelecidos entre disciplinas diversas.

Criação, concepção e desenvolvimento de projetos cenográficos para exposições de arte, arquitetura efêmera, festivais de música e cinema, e eventos para mercado publicitário (principalmente mercado de moda, beleza e entretenimento).

Ao longo dos últimos anos desenvolvi diversos projetos para grandes empresas e marcas como Ford, Banco Santander, Jhonson & Jhonson, Sephora, Absolut, Lacoste, Adidas, Renner, Boticário, etc."


Portifólio http://cargocollective.com/gabrielapires

> Enviei a ela esse texto de apresentação falando um pouco de mim, da minha pesquisa, do porque da conversa e ao final as perguntas elaboradas a partir das leituras de referência acerca dos temas do trabalho: arte, arquitetura, micropolítica, afeto, capitalismo tardio, paisagem urbana, subjetividade e perspectivas de futuros e presentes prováveis.

CONVERSA COM A ARQUITETA E PROFESSORA GABRIELA PIRES MACHADO

 

PROPÓSITO: 

Eu sou o Eduardo Garcia, sou artista independente autodidata e formando em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Estou desenvolvendo meu TCC “Horizontes (prováveis) do Agora: Micropolítica do afeto como prática artística, arquitetônica e subjetiva na paisagem urbana - Cartografia das práticas artísticas da comunidade queer em BH nos últimos anos, sua relação com a micropolítica, o afeto e o espaço-público na cidade”. O trabalho começou em meados de setembro sob orientação do professor Adriano Mattos e da professora Laura Castro e vem se transformando a cada dia. Venho pesquisando os vínculos e conexões existentes entre arte contemporânea, arquitetura e espaço-público urbano.

 

Minha pesquisa ainda está no início e pretendo com ela levantar evidencias que ajudem a sustentar a hipótese do entendimento da prática política do afeto no espaço cotidiano (micropolítica), desempenhada por todes, como prática artística, poética e subjetiva. Prática que tem a potencialidade de atuar de maneira insurgente, sendo ao mesmo tempo resistência a um sistema hegemônico de exploração e ter a capacidade de articular outros imaginários compartilháveis e desvios de rota cotidianos, que apontem para uma restauração das subjetividades e consequentemente dos ambientes e paisagens urbanas. 

 

Pretendo com essa conversa, tentar aproximar as discussões da arte contemporânea as discussões da arquitetura e do urbanismo no que diz respeito a prática espacial na paisagem, a produção de subjetividade e das relações sociais cotidianas com o mundo. Na tentativa de articular conexões entre territórios e subjetividades fragmentadas pela crescente individualização, pressa das cidades e cultura do medo que nos impede de vislumbrar os outros mundos existentes no aqui e agora, suas possibilidades de vida e fundamentos ancestrais. Posteriormente essa pesquisa deverá embasar novas discussões e traçar conexões que evidenciem a potência do rizoma da arte e da cultura no território, sua capacidade de ser resistência e apontar caminhos prováveis para as questões da atualidade. Através do levantamento das práticas artísticas da comunidade queer em Belo Horizonte dos últimos anos. 

Durante minha pesquisa até agora pude ler e trazer como referência os textos “Restauração da Cidade Subjetiva” de Félix Guattari em seu livro “Caosmose: Um novo paradigma estético” de 1992; “Zonas de espera” de Paulo Arantes em seu livro “O novo tempo do mundo” de 2014; e os livros “Escavar o Futuro” de Felipe Scovino, Fernanda Regaldo, Renata Marquez e Roberto Andrés de 2014; “Estética Relacional” de Nicolas Bourriaud de 2009; e “Arte para uma cidade sensível” de Brigida Campbell de 2015. Portanto esta conversa será baseada nessas leituras e servirá como complemento teórico à pesquisa, sendo de imensa valia para as discussões e análises suscitadas pelas práticas artísticas que serão levantadas posteriormente.

 PERGUNTAS: 

  1. O sentimento de solidão contemporâneo e de vazio na subjetividade individual e coletiva não seria consequência da violência cotidiana e estrutural do sistema capitalista? E em que medida as práticas artísticas pode nos ajudar nesse sentido?

  2. Bom, se a arte[1] contemporânea também cria territórios de subjetividades, imaginários coletivos, atmosferas e mesmo outros mundos possíveis, não estaria a arte indo de encontro à arquitetura[2] e vice-versa? Em sua opinião, qual a importância da prática espacial e relacional como uma prática política transdisciplinar comum a arte, a arquitetura e a sociedade? E como ela poderia ser desenvolvida? 

  3. Pensando acerca dos espaços urbanos e sua capacidade de afetar e ser afetado pelas pessoas, penso no conceito de Lefebvre do direito à cidade[3]. A prática da micropolítica[4] e do afeto, em tese poderia funcionar como dispositivo que nos aproxime do direito à cidade, à medida que promova a habitação do espaço público? Ou seja, tem a capacidade de afetar os espaços e a sociedade? E em que medida, a seu ver, os espaços públicos poderiam ter a capacidade de ativar as subjetividades e promover as relações?

  4.  A arte e a arquitetura podem servir como mediação[5] na esfera pública? Estabelecendo conexões que contribuam para o fortalecimento dos territórios subjetivos do imaginário coletivo? E quais os repertórios que a arte, e a arquitetura, como formas de mediação social podem nos emprestar para tarefa de existência e conexão com os outros mundos? 

  5. Sobre micropolítica e prática artística[6], acredito que a micropolítica seja a chave para mudanças estruturais. A micropolítica como prática artística leva ao entendimento de uma atitude artística do ser e no estar no mundo, onde todos atuam cotidianamente. Nesse sentido, qual o papel do afeto na micropolítica e na arte? E qual o papel que o afeto poderia desempenhar numa prática relacional? 

  6. E a prática da micropolítica poderia ser entendida também como uma prática artística[7] relacional[8]?

  7. Tendo em vista as práticas artísticas de micropolítica e afeto das minorias identitárias que trabalham com espaço-público em BH atualmente. Quais são, ao seu entender, os impactos dessa arte e dessa subjetividade na paisagem urbana e no cotidiano das pessoas? 

  8.  Qual é a relação existente de resistência que a arte contemporânea de minorias identitárias, como exemplo a comunidade queer desempenha em relação ao sistema capitalista em Belo Horizonte hoje? Essa arte está subvertendo as estruturas e sendo absorvida por elas?

  9. Em que medida, a tomada dos espaços públicos de BH por ocupações, movimentos de luta, manifestações políticas e culturais[9] andam junto a produção subjetiva e artística local? Quais as relações existentes entre essa tomada dos espaços públicos por manifestações e ocupações e a produção artística e subjetiva local?

  10. Podemos entender a arte contemporânea relacional como “um estado prático de sensibilidade”[10] onde podem atuar artistas e cidadãos? E se todos podem atuar, também podemos entender essa prática artística como uma prática de micropolítica? No sentido de que o ser e estar no mundo pressupõe uma micropolítica cotidiana, em que todos atuam conscientemente ou não. Poderia nos falar um pouco sobre isso?

PERGUNTAS EXTRAS:

1.Acredito que toda arte desenvolve, em certo grau, um projeto político e, portanto, ela é passível de ser compreendida como insurgência. Nesse sentido, você acredita na arte como insurgência? No seu ponto de vista, quando a arte desenvolve um projeto político e quando ela é cooptada pelas estruturas que atuam para sua desintegração?

2.O que você acha do entendimento que considera os diversos modelos de subjetivação existentes nas diferentes culturas[11] de modo igualmente válido, sem conferir a ciência e a técnica a autoridade do saber? E que acha desse entendimento para uma prática artística e arquitetônica mais plural, democrática e potente?

3.Devemos estar atentos a dimensão poética cotidiana para estabelecer possibilidades de vida e outros arranjos relacionais? Qual o papel da dimensão poética? Ela poderia nos ajudar na superação das barbáries ao transformar nossa percepção sobre a realidade? E qual seria a relação da dimensão poética com a micropolítica e a vivência da cidade?

CONCEITOS:

1*ARTE: "Arte é um termo em constante mutação. Seus significados, papéis e formas de entendimento dependem dos contextos, épocas e locais. A arte pode ser, como disse Nicolas Bourriaud, “uma atividade que consiste em produzir relações com o mundo com a ajuda de signos, de formas, de gestos ou de objetos”. Pode ser também uma forma de conectar as pessoas a um mundosensível, da criatividade, da ludicidade, do belo, do político e do crítico; ou uma maneira de se criar processos de subjetivação libertários em um mundo marcado pelo controle, pela lógica do mercado e pela violência em todas suas formas. Como aponta Deleuze, “toda a arte é um ato de resistência. Todo ato de resistência é revolucionário”." (CAMPBELL, 2015, p.302)

2*ARQUITETURA: “A arquitetura e o urbanismo, mais que estruturas arquitetônicas, criam formas de experiências espaciais, criam lugares. Definem fluxos e modos de ocupação." (CAMPBELL, 2015, p.28). “O urbanismo não procura modelar o espaço como uma obra de arte. Nem segundo razões técnicas, como pretende. O que o urbanismo elabora é um espaço político.” (LEFEBVRE apud CAMPBELL, 2015, p.51)

3*DIREITO À CIDADE: “Trata-se de uma forma de democracia direta, pelo controle social das pessoas sobre as formas de habitar e viver nas cidades. O direito à cidade é, portanto, o direito de construir modos de vida urbana, como uma grande obra humana coletiva em que cada indivíduo e comunidade tem espaço para manifestar suas diferenças.” (CAMPBELL, 2015, p.31)

4*MICROPOLÍTICA: ”O que está em jogo aqui são pequenas lutas fragmentadas, rizomáticas e móveis, que se modificam em diferentes contextos e lugares. A micropolítica (em oposição à macropolítica: as políticas estatais, normativas e de ação massificadora) trata de um campo de poder que é invisível e abrange o contexto político de cada ação e cada ato singular de produção de realidades” (CAMPBELL, 2015, p.23).

5*MEDIAÇÃO: “a arte pode servir como uma arena, ou um meio de mediação na esfera pública, em que as tensões entre o poder e a política se manifestam.” (CAMPBELL, 2015, p.262)

6*MICROPOLÍTICA COMO ARTE: “As artes são pensadas como micropolíticas produtoras de subjetividades e de realidades possíveis e espaciais” (CAMPBELL, 2015, p.23)

7*ARTE CRÍTICA: "O termo Arte Política está relacionado às obras de Arte Crítica, contemplando ações caracterizadas por um envolvimento social e cultural na sua criação e produção. Alguns autores, porém, como Chantal Mouffe, afirmam que não é possível distinguir entre arte política e arte não política, pois todas as manifestações artísticas sempre trazem em si ideologias. Nesse sentido, mesmo a arte não crítica pode ser considerada política."(CAMPBELL, 2015, p.303)

8*ESTÉTICA RELACIONAL: "Estética Relacional consiste em uma forma de produzir arte que leva em conta uma preocupação com as relações humanas, ou seja, do artista com o seu entorno e com o seu público. Nesta forma de fazer arte, os repertórios individuais estão a serviço da construção de significados coletivos e a participação é um fator crucial em todos os processos da obra, desde sua concepção até produção e exibição. Conforme define Nicolas Bourriaud, Estética Relacional é a “teoria estética que consiste em julgar as obras de arte em função das relações inter-humanas que elas figuram, produzem ou criam”." (CAMPBELL, 2015, p.303)

9*MANIFESTAÇÕES NO URBANO: "Essas ações criam outros imaginários possíveis, gera sentimento de pertencimento e rompem com os muros invisíveis de todas as naturezas, criando territórios livres para a experimentação e a vivência da arte e das relações na cidade.” (CAMPBELL, 2015, p.53).

10*ARTE COMO UM ESTADO PRÁTICO DE SENSIBILIDADE: “Gosto de pensar a arte não exclusivamente como uma disciplina, mas como um estado prático de sensibilidade no qual podem atuar artistas e não artistas. E, no caso específico de uma possível arte-na-cidade, um estado no qual podem atuar artistas e cidadãos.” (MARQUEZ apud CAMPBELL, 2015, p.230)

11*IGUALDADE ENTRE OS MODELOS DE SUBJETIVAÇÃO: O “paradigma-estético” de Guattari consiste na perspectiva de transferir “as ciências humanas e as ciências sociais dos paradigmas cientificistas para os paradigmas ético-estéticos” (BOURRIAUD,2009, p.135). Um certo tipo de ceticismo científico, pois “as teorias e os conceitos, para ele, possuem apenas valor de modelos de subjetivações entre outros; nenhuma certeza é irrevogável” (BOURRIAUD,2009, p.135). E convida o leitor “a aceitar e rejeitar livremente meus conceitos” (BOURRIAUD,2009, p.135)

VÍDEO DA CONVERSA (NA ÍNTEGRA):

Conversa realizada dia 12.01.2022. Disponível em: CONVERSA COM A PROFESSORA GABRIELA PIRES MACHADO - YouTube

trechos DA CONVERSA:

PAISAGEM URBANA E GENTRIFICAÇÃO EM BH (ARTE E ARQUITETURA). Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

MEDIAÇÃO SOCIAL DA ARTE E DA ARQUITETURA: LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E TRADUÇÃO ENTRE MUNDOS. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

TERRITÓRIO E ARTE CONTEMPORÂNEA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

MACRO E MICROPOLÍTICA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

VAZIO NA SUBJETIVIDADE E VIOLÊNCIA CAPITALISTA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

PRÁTICA ESPACIAL RELACIONAL DA ARTE E DA ARQUITETURA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

O NÃO-FAZER DA ARQUITETURA E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO NAS CIDADES. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

TEMPO-PRESSA E A NECESSIDADE DE AÇÃO. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

MICROPOLÍTICA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

COMUNIDADE QUEER, PRÁTICAS ARTÍSTICAS E TERRITÓRIOS EM DISPUTA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

ARQUITETURA E ARTE RELACIONAL: DESEJO DE TRANSFORMAÇÃO. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

ARTE RELACIONAL E AS INSURGÊNCIAS. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

MICROPOLÍTICA E PRÁTICA ARTÍSTICA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado.

ARTE POLÍTICA E MICROPOLÍTICA. Trecho da conversa realizada dia 12.01.22 com a arquiteta e cenógrafa Gabriela Pires Machado

©  HORIZONTES IM/PROVÁVEIS  - EDUARDO GARCIA - 2022

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