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MICROUTOPIAS

Um horizonte provável de resistência para o aqui e agora está, talvez, muito mais para uma retomada de uma responsabilidade com o coletivo, através da micropolítica e do afeto na escala do cotidiano, do que em utopias revolucionárias.

As utopias sociais de esperança revolucionária deram lugar a microutopias cotidianas e estratégias miméticas. Guattari já anunciava isso:

 

“é ilusório pensar numa transformação gradual da sociedade, da mesma forma creio que as tentativas microscópicas, tipo comunidades, comitês de bairro, organização de uma creche na faculdade e etc. Desempenham um papel absolutamente fundamental” (GUATTARI apud BOURRIAUD,2009, p.44). 

Centro Cultural Lá da Favelinha. "É uma iniciativa independente e sem fins lucrativos que surgiu em 2015 no Aglomerado da Serra. Fundada e coordenada pelo artista Kdu dos Anjos, é uma organização artística-cultural que busca promover o empreendedorismo social e o desenvolvimento humano através da arte." Disponível em: Lá da Favelinha (@ladafavelinha)

Horta comunitária do Centro Cultural Lá da Favelinha na Vila Santana do Cafezal, Aglomerado da Serra, BH. "Por aqui sempre buscamos unir economia sustentável e criatividade para fortalecer nossa comunidade. E foi a partir disso que construímos nossa horta comunitária. Junto com a @acmcafezal e com o apoio do @institutokairos, criamos um espaço para produzir verduras e hortaliças, que são distribuídas para os moradores do Aglomerado da Serra.Com a iniciativa, ainda geramos renda para as famílias envolvidas e promovemos a sustentabilidade. No último ano, foram 1200 cestas de hortaliças distribuídas. Seguimos na missão." Disponível em: Lá da Favelinha (@ladafavelinha)

Essas iniciativas criam microutopias. Realidades paralelas que coexistem no aqui e agora. São possibilidades de vida sob outra estrutura social que não é a da lógica hegemônica do tempo-mercadoria.

Bourriaud afirma que:

 

“retomar a ideia de pluralidade, para a cultura contemporânea nascida da modernidade, significa inventar modos de estar-juntos, formas de interações que ultrapassem a fatalidade das famílias, dos guetos do tecnoconvívio e das instituições coletivas que nos são oferecidas” (BOURRIAUD,2009, p.84).

 

Afirma também que a arte contemporânea se fundamenta na esfera das relações inter-humanas, construindo

 

“modelos de socialidades capazes de produzir ‘relações humanas’ ou ‘microutopias’, ‘interstícios abertos no corpo social’” (BOURRIAUD,2009, p.98).

 

E desse modo, segundo Bourriaud, as ações e atitudes geram formas que induzem modelos de socialidade.

 

“sabe-se que as atitudes se tornam formas; agora, deve-se levar em conta que as formas induzem modelos de socialidade” (BOURRIAUD,2009, p.81).

Ainda sobre micropolítica, desenvolvi algumas perguntas que foram feitas em entrevista a arquiteta, cenógrafa e professora do curso de Arquitetura da UFMG, Gabriela Pires Machado. Nelas pude sintetizar algumas das questões mais latentes sobre o tema, que foram surgindo ao longo da pesquisa. São questões que não necessariamente são respondíveis, mas que suscitam discussões relevantes para o campo da arte, da arquitetura e da política.

 

O intuito aqui é jogar luz sobre essas questões e aproximá-las das discussões da arquitetura. E não chegar a uma conclusão definitiva. Até porque não há verdades absolutas, mas pontos de vista e abordagens que devem ser complementares. Deixo aqui essas questões como matéria de reflexão. E na segunda metade do trabalho pretendo tentar respondê-las. São elas:

 

  1. Sobre micropolítica e prática artística, acredito que a micropolítica seja a chave para mudanças estruturais. Podemos acreditar no poder rizomático de proliferação e enraizamento da micropolítica comprometida com o coletivo na sociedade?

  2. A micropolítica como prática artística leva ao entendimento de uma atitude artística do ser e no estar no mundo, onde todos atuam cotidianamente?

  3. E a prática da micropolítica poderia ser entendida também como uma prática artística relacional?

  4. Tendo em vista as práticas artísticas de micropolítica e afeto das minorias identitárias que trabalham com espaço-público em BH atualmente, quais são os impactos dessa arte e dessa subjetividade na paisagem urbana e no cotidiano das pessoas? 

efe mora na celma albuquerque.png

Artista Efe Godoy morou dentro da sua exposição "Estranho Familiar" na Galeria de Arte Celma Albuquerque em BH. Subvertendo a concepção de exposição de arte estática, ao habitar a galeria, a artista da vida à exposição gerando uma microutopia que muda a relação com o público, com as obras e com a própria galeria.

Disponível em: (@efegodoy)

Obra: "Corpo Coletivo", "Fantasmática do Corpo", Lygia Clark, 1970. Imagem disponível em: Corpo Coletivo | Acervo | Lygia Clark

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