Cartografia das práticas espaciais, artísticas e subjetivas da comunidade queer em Belo Horizonte, nos últimos anos. E sua relação com a micropolítica e o afeto no espaço-público da cidade.
Cartografia das práticas espaciais, artísticas e subjetivas da comunidade queer em Belo Horizonte, nos últimos anos. E sua relação com a micropolítica e o afeto no espaço-público da cidade.
MEDO, INSEGURANÇA E VIOLÊNCIA URBANA
A cidade grande contemporânea é dominada por afetos como o medo, a insegurança e a desconfiança. Enquanto os afetos como o amor, a gentileza, a compaixão e a empatia se tornam cada vez mais raros. Nesse cenário de desgaste cada vez maior do tecido social, é preciso que a produção espacial e subjetiva possa estar comprometida com o desenvolvimento dos afetos do amor. Pois, caso contrário, as chances de uma ruptura do tecido social e do estado democrático de direito se tornam cada vez mais prováveis. Principalmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento como o Brasil. Vera Pallamin afirma que
“Afetos como o medo e a insegurança tomaram a dianteira no uso dos espaços urbanos abertos, submetendo as expectativas do encontro, do desconhecido, do imprevisto muito elogiadas nos primórdios da cidade moderna, no século XIX – ao sinal contrário, resultando num esgarçamento do tecido social urbano.” (PALLAMIN apud CAMPBELL, 2015, p.56).
Nesse cenário de desgaste cada vez maior do tecido social, é preciso que a produção espacial e subjetiva possa estar comprometida com o desenvolvimento dos afetos do amor.
A autora Bell Hooks no prefácio do seu livro “Tudo sobre o amor – novas perspectivas” também nos alerta nesse sentido:
"Quando eu era criança, tinha clareza de que a vida não valia ser vivida se não conhecêssemos o amor. Quem me dera pudesse dizer que atingi essa consciência por causa do amor que sentia. Foi sua falta, no entanto, que me fez saber quanto ele é importante. […] Despertei do meu estado de transe e fiquei atordoada ao descobrir que o mundo em que eu vivia, o mundo do presente, já não era um mundo aberto ao amor. E percebi que tudo o que eu ouvia ao meu redor evidenciava que o desamor tinha se tornado a ordem do dia. Sinto nosso país se afastando do amor com a mesma intensidade que senti o abandono do amor na infância. Com esse afastamento, nos arriscamos a penetrar em um quadro de selvageria de espírito tão intensa que talvez jamais encontremos o caminho de volta." (HOOKS, Bell. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. Trilogia do amor vol. 1. São Paulo: Editora Elefante, 2021.)
Imagem do podcast MATÉRIA BRUTA, do Canal Curta.
Imagem disponível em: Canal Curta - Instagram

Episódio 44 Podcast Matéria Bruta: Conheça Bell Hooks com Mariléa de Almeida. Disponível em: Podcast Matéria Bruta | Episódio 44
Obra: "A sangue frio" da série "guerra é guerra" do artista carioca Ronald Duarte, 2003. Imagem disponível em: Performing Rio de Janeiro: (hemisphericinstitute.org)
"O artista embala grandes blocos de gelo com corante vermelho em cobertores usados normalmente por moradores de rua e os espalha pelo centro da cidade. Os cobertores a princípio se parecem com crianças dormindo e conforme o tempo vai passando e o gelo vai derretendo e vão se formando poças de sangue pelas calçadas e ruas." (CAMPBELL, 2015, p.251).