Cartografia das práticas espaciais, artísticas e subjetivas da comunidade queer em Belo Horizonte, nos últimos anos. E sua relação com a micropolítica e o afeto no espaço-público da cidade.
Cartografia das práticas espaciais, artísticas e subjetivas da comunidade queer em Belo Horizonte, nos últimos anos. E sua relação com a micropolítica e o afeto no espaço-público da cidade.
A PRÁTICA ESPACIAL RELACIONAL DA ARTE
E DA ARQUITETURA
A prática espacial é eixo transdisciplinar comum entre a arte e a arquitetura. Hoje essas disciplinas estão ainda mais próximas pela sua recente fusão em seu caráter relacional.
Tanto a arte quanto arquitetura encontram-se hoje debruçadas sobre a dimensão relacional de suas obras e sua capacidade de promover a socialidade, enquanto crítica e subversão à individualização social e a incapacidade de se respeitar/enxergar o outro. Portanto podemos dizer que a arte e a arquitetura estão unidas pois ambas elaboram práticas espaciais relacionais.
Antes de mais nada é preciso conceituar melhor os termos. Segundo Brígida Campbell, Arte é:
"Arte é um termo em constante mutação. Seus significados, papéis e formas de entendimento dependem dos contextos, épocas e locais. A arte pode ser, como disse Nicolas Bourriaud, “uma atividade que consiste em produzir relações com o mundo com a ajuda de signos, de formas, de gestos ou de objetos”. Pode ser também uma forma de conectar as pessoas a um mundo sensível, da criatividade, da ludicidade, do belo, do político e do crítico; ou uma maneira de se criar processos de subjetivação libertários em um mundo marcado pelo controle, pela lógica do mercado e pela violência em todas suas formas. Como aponta Deleuze, “toda a arte é um ato de resistência. Todo ato de resistência é revolucionário”." (CAMPBELL, 2015, p.302)
Segundo Bourriaud, a Arte Contemporânea seria o local de produção de
“relações externas ao campo da arte: relações entre indivíduos ou grupos, entre artista e o mundo, entre espectador e o mundo” (BOURRIAUD,2009, p.37).
Portanto, podemos entender que toda arte é política e produz relações com o mundo.

"Festa da Luz". Entre os dias 28 e 31 de outubro de 2021, aconteceu a primeira edição da Festa da Luz de Belo Horizonte, um circuito de arte pública no centro. Disponivel em: (@festadaluz.art)
"A Festa da Luz vai acender nossa imaginação para outros futuros possíveis. Depois de quase 2 anos de isolamento social, no momento em que estamos voltando a nos encontrar, aos poucos e com cuidados, o convite é para experimentar; descobrir naquilo que é cotidiano a potência de transmutar novamente em sonhos. A Festa da Luz foi idealizada pela Associação Cultural Casinha e pela Híbrido Comunicação e Cultura e é uma coprodução das duas com a Pública, produtora do Cura, que vai acontecer no mesmo período. O Sula, novo restaurante, bar e espaço cultural, comandado pela Híbrido e localizado no Edifício Sulamérica, será o espaço oficial da Festa da Luz. A primeira edição da Festa da Luz tem patrocínio da Cemig e da Becks por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais."
A Arte Política, segundo a mesma autora é conceituado da seguinte maneira:
"O termo Arte Política está relacionado às obras de Arte Crítica, contemplando ações caracterizadas por um envolvimento social e cultural na sua criação e produção. Alguns autores, porém, como Chantal Mouffe, afirmam que não é possível distinguir entre arte política e arte não política, pois todas as manifestações artísticas sempre trazem em si ideologias. Nesse sentido, mesmo a arte não crítica pode ser considerada política."(CAMPBELL, 2015, p.303)
Já Estética Relacional fica conceituado pela autora como:
"Estética Relacional consiste em uma forma de produzir arte que leva em conta uma preocupação com as relações humanas, ou seja, do artista com o seu entorno e com o seu público. Nesta forma de fazer arte, os repertórios individuais estão a serviço da construção de significados coletivos e a participação é um fator crucial em todos os processos da obra, desde sua concepção até produção e exibição. Conforme define Nicolas Bourriaud, Estética Relacional é a ‘teoria estética que consiste em julgar as obras de arte em função das relações inter-humanas que elas figuram, produzem ou criam.’" (CAMPBELL, 2015, p.303)

Disponivel em: CURA – Circuito Urbano de Arte
CURA BH - CIRCUITO URBANO DE ARTE
"O CURA é um dos maiores festivais de arte pública do Brasil e, em 2017, presenteou Belo Horizonte com seu primeiro circuito de pintura em empenas, criando o primeiro mirante de arte urbana do mundo. Da rua Sapucaí, é possível contemplar todas as obras realizadas no hipercentro, incluindo os murais mais altos pintados por mulheres na América Latina e a maior obra de arte pública realizada por uma artista indígena. Em 2021, o CURA propõe outros percursos e mapas de cidade. Em sua 6ª edição, segue em direção a um novo ambiente de imersão em arte pública: a Praça Raul Soares, encruzilhada de diversos caminhos, afetos, culturas e experiências."
MIRANTE DE ARTE URBANA
"O Circuito Urbano de Arte deixa como legado para a capital mineira o primeiro Mirante de Arte Urbana do mundo, localizado na rua Sapucaí, Floresta. Não existe registro de outro festival em que o público possa acompanhar ao vivo, de um só ponto, a feitura das obras. O ponto turístico pioneiro, frequentado ao longo de todo o ano por milhares de pessoas, ganhou da Belotur, em dezembro de 2018, duas lunetas fixas e públicas, melhorando a experiência de apreciação da coleção dos murais gigantes do CURA. Na edição 2019 do CURA, no bairro Lagoinha, a cidade ganhou outro mirante, agora na rua Diamantina, de onde é possível se encantar com pinturas de prédios, muros e estabelecimentos comerciais, somando 11 obras de arte pública."
Portanto, podemos entender que toda arte é política e produz relações com o mundo. E que a estética relacional da arte contemporânea é justamente uma maneira de produzir arte levando-se em consideração a dimensão política da produção de relações sociais com o mundo. É nesse sentido que a arte contemporânea se funde com a arquitetura e o urbanismo, na prática espacial relacional. Campbell afirma que
“A arquitetura e o urbanismo, mais que estruturas arquitetônicas, criam formas de experiências espaciais, criam lugares. Definem fluxos e modos de ocupação." (CAMPBELL, 2015, p.28).
Do mesmo modo que a arte relacional contemporânea, Lefebvre afirma que
“O urbanismo não procura modelar o espaço como uma obra de arte. Nem segundo razões técnicas, como pretende. O que o urbanismo elabora é um espaço político.” (LEFEBVRE apud CAMPBELL, 2015, p.51).
“O urbanismo não procura modelar o espaço como uma obra de arte. Nem segundo razões técnicas, como pretende. O que o urbanismo elabora é um espaço político.” (LEFEBVRE apud CAMPBELL, 2015, p.51).
"[...]Essa investigação foi gestada no meu corpo. Nasce de um desejo por cartografar o meu corpo-território, para me conhecer mais, para conseguir visualizar muros e fronteiras que se ergueram dentro de mim através da disciplina dos gestos, para traçar as relações entre corpo, memória e espaço e para experimentar possíveis mapeamentos anti-objetivos, anti-binários y anti-colonizadores com potencial de serem experimentados por outres além de mim mesme. Desejo que esse zigoto metamorfoseante seja um rizoma (“caule subterrâneo e rico em reservas, comum em plantas vivazes, caracterizado pela presença de escamas e gemas, capaz de emitir ramos folíferos, floríferos e raízes”) e dele brotem práticas arte-educativas de escrita de si. Confio no potencial empoderador de narrar a própria vivência, seja para si mesmo, seja para o mundo. Nem sempre a língua do território-corpo é a palavra.[...]"

"EXTRAVIOS CARTOGRÁFICOS: CORPO-TERRITÓRIO y ESPAÇO" TCC de Arquitetura e Urbanismo por Kali Nynis. Disponível em: Extravioscartografik (nnaarte.wixsite.com)