Cartografia das práticas espaciais, artísticas e subjetivas da comunidade queer em Belo Horizonte, nos últimos anos. E sua relação com a micropolítica e o afeto no espaço-público da cidade.
Cartografia das práticas espaciais, artísticas e subjetivas da comunidade queer em Belo Horizonte, nos últimos anos. E sua relação com a micropolítica e o afeto no espaço-público da cidade.
AUTONOMIA, RESPONSABILIDADE E TRANSFORMAÇÃO
Quando vivemos uma realidade político-social-econômica como a do Brasil dos últimos 5 anos (2016 a 2022) é comum observar um fenômeno de desesperança, falta de perspectiva e desanimo da população em relação à macropolítica. Muitas vezes acompanhada de uma percepção de que nada vai mudar, de que não há nada que se possa fazer, ou seja, um sentimento de impotência diante da escala distante do poder, que se apresenta inacessível.
Nessas circunstâncias também é comum transferir toda a responsabilidade para algo maior e se isentar de qualquer ação propositiva em prol do coletivo. Sim, os governos e o estado têm grande parte da responsabilidade e muitas vezes a pressão e o peso da realidade se impõe a população, principalmente a mais vulnerável. Impedindo-a de ter condições de articular-se e agir para o coletivo, seja pela falta de recursos financeiros, seja pela falta de tempo, energia, saúde mental e física. Entretanto, a micropolítica opera mesmo assim, e apesar de tudo isso, através das relações interpessoais e com o meio.
Há um trecho da fala de Cássio Hissa em entrevista à Brígida Campbell em seu livro que fala um pouco sobre isso, quando afirma que:
“há uma prevalência inconcebível do não pensar e, consequentemente, do agir sem responsabilidade — como se os males do mundo estivessem além da nossa capacidade de pensar, de decidir e de agir. O maior dos lugares comuns está no interior do discurso que transfere responsabilidades para algo abstrato e superior, acima de nós, quando a mais superior das práticas está em admitir que a transformação de nós mesmos é o alicerce da transformação dos males que criticamos e, na maioria das vezes, com a isenção de nossas próprias responsabilidades.” (HISSA apud CAMPBELL, 2015, p.106)




Movimento de Luta pelo Parque Jardim América, Bloco Parque JA e Associação ACSCD - Região Oeste de BH. Disponível em: Parque Jardim América BH




Parceria Jardins Possíveis e Hortelões da Lagoinha: entrega dos mobiliários + diários de jardim. Disponível em: JARDINS POSSÍVEIS
"No dia 30 de junho foi entregue aos Hortelões da Lagoinha o mobiliário desenvolvido pelo curso de Design da UFMG na disciplina ministrada pela professora Luciana Bragança. Essa interação foi proposta como forma de aproximar comunidade e universidade numa construção mútua de saberes. Os Hortelões fazem parte da pesquisa “Jardins Possíveis” e são um caso de como os jardins fazem a cidade e trabalharam conjuntamente com os alunos do Design no primeiro semestre de 2018."

Imagem produzida pela Deutsche Welle. Fonte: IBGE. Disponível em: (justicapaz.org)
É nesse terreno fértil do cotidiano e das relações que a tomada de consciência da prática da micropolítica comprometida com o coletivo pode operar de maneira potente, desencadeando uma série de pequenas revoluções.

"Jardins Possíveis", pesquisa conduzida pela arquiteta Gabriela Rezende. Imagem e texto disponível em: Sobre – JARDINS POSSÍVEIS
"Pesquisa Jardins Possíveis, patrocinada pela pró- reitoria de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Unindo revisão e produção teórica, percorrendo autores como Isabelle Stengers, Anna Tsing, Gillés Clément, Olivier Mongin, Marcelo Lopes de Souza e Bruno Latour, a pesquisa visa compreender a relação multiespecies a partir da perspectiva dos jardins, identificando jardins “não oficiais” na cidade Belo Horizonte, Minas Gerais. Logo, busca analisar os espaços por eles proporcionados e as formas como desencadeiam processos de novas territorialidades, levantando hipóteses alternativas para embasar políticas de projeto para as cidades e os espaços públicos. Será levantada a ocorrência de jardins urbanos em Belo Horizonte, inicialmente em 3 áreas dentro de um recorte ao longo da margem do Ribeirão Arrudas: Barreiro, Hipercentro e São Geraldo. Junto ao mapeamento dos espaços de jardim, a pesquisa busca reconhecer os jardineiros como agentes da cidade, capazes de conviver com a natureza se entendendo parte dela, reconhecendo e inventando novas formas de coexistência no nosso mundo urbano."