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TERRITÓRIO FÍSICO, SUBJETIVO E FICCIONAL

O território físico é palco da vida humana, e resultado histórico da apropriação do ser humano ao espaço natural.

É também a base para a paisagem que se projeta além do físico e comporta a cultura, os costumes e a identidade. O território físico brasileiro por exemplo, é fortemente impactado pela invasão dos portugueses em 1500 e desde então vem sofrendo mutações cada vez mais aceleradas. Literalmente diversas montanhas já foram movidas pela ganância e exploração do território brasileiro desde então. Embora as consequências sejam notáveis, o território está submetido a uma escala temporal geológica e, portanto, já existia antes e continuará existindo muito depois de nós. (será?)

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O território ficcional é o território político, institucional, cartográfico, com fronteiras bem demarcadas.

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Obra: “Independência e morte” de Clébson Francisco, 2019. Acessado em: Independência e morte – Clébson Francisco (clebson.com)

Esse “território” vem sendo fortemente questionado pela produção intelectual e artística nacional, assim como por culturas e povos tradicionais e originários. Pois afinal, o que é o “Brasil”? O estado brasileiro? Esse contorno no mapa? Além de uma invenção colonial para apagar os diversos mundos que coabitavam e coabitam aqui? Outras configurações de sociedades possíveis que já foram pensadas há muito tempo e vem sendo apagadas. 

Já o território subjetivo seria aquele habitado e construído pelas subjetividades individuais e coletivas em comunidade.

A contemporaneidade neo-liberal deixa o ser humano desterritorializado em suas subjetividades, o que atrapalha sua relação com o cosmos e a vida. É preciso desenvolver práticas para recompor as singularidades individuais e coletivas. Pois a lógica hegemônica é massificante e descrimina o diferente. É preciso tempo e espaço para recompor as singularidades. A arte, mais uma vez, tem esse papel de dar as condições espaço-temporais para a recomposição das singularidades e dos territórios subjetivos do imaginário coletivo.

A arte, mais uma vez, tem esse papel de dar as condições espaço-temporais para a recomposição das singularidades e dos territórios subjetivos do imaginário coletivo.

Talvez aprender a habitar melhor o mundo passe muito mais pela reinvindicação desses mundos ancestrais que são fundamentais na construção social, do que imaginar e construir um mundo novo por cima de tudo que existe.  Se esse brasil de hoje foi imaginado e construído, podemos e devemos imaginar essas outras configurações prováveis. O Artista nordestino Clébson Francisco, por exemplo, aborda isso em seu trabalho intitulado “Independência e morte” de 2019.

João Donato com o povo Yawanawá no XII Festival Yawanawa. Aldeia Nova Esperança, em Tarauacá, Acre, Brasil. Disponível em: ANIN.

"Na língua yawanawá, kanarô é um pássaro que traz com ele uma saudade intensa, saudade que sinto do dia em que fui recebido por esse povo generoso da floresta. No instante deste vídeo, o amigo Shaneihu me ensinava a tocar a canção "Kanarô" e as jovens se encarregavam dos impressionantes vocais que Camila Cabeça há tempos afirmava que iriam me impressionar. Os amigos Jorge e Tião Viana vinham há anos me convidando para participar do festival Yawanawá e, em 2018, finalmente consegui conciliar viagens para fazer esta que foi "a viagem". Participei do ritual sagrado da ayahuasca e assim tive um encontro singular com uma ancestralidade que percebi familiar nos traços da minha mãe, dona Lay. Haux haux, txai." - João Donato.

Em entrevista para a Revista Trip e disponível na Revista da Gol de  9 de novembro de 2021 o advogado, escritor e um dos maiores intelectuais do país, Silvio Almeida vai na mesma direção. Silvio questiona como o Brasil foi pensado, um Brasil extremamente desigual e violento com seu próprio povo. Ele diz assim:

 

"Vamos precisar pensar o Brasil. Por quê? Porque, provavelmente, diante de tudo o que vem acontecendo nos últimos anos, o Brasil tal como nós conhecemos não existe mais. Já não se trata mais, na minha concepção, de reconstruir o Brasil. Mas de construir um Brasil que nunca existiu. Vamos entender como o Brasil foi pensado? Um país como o nosso, com profunda desigualdade, em que a população negra é a maioria, precisa de mecanismos tanto ideológicos quanto de violência muito bem construídos para dar conta de se manter íntegro. Imagina qual nível de violência contra o povo brasileiro é preciso manter para que essas contradições sigam em equilíbrio"

Silvio Almeida. Disponível em: Trip (@revistatrip)

©  HORIZONTES IM/PROVÁVEIS  - EDUARDO GARCIA - 2022

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