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DIVERSIDADE DE PERCEPÇOES
E PAPEL DA ARTE
E DA ARQUITETURA

“A arte é um estado de encontro fortuito” (BOURRIAUD,2009, p.25)

A arte, assim como a arquitetura, estabelece um papel de mediador e tradutor entre disciplinas, assuntos e áreas do conhecimento diversas.

Um bando de "Animais encantados" Contra a PL 490 do Marco Temporal. Ato político e artístico na Avenida Paulista em 2021, que tem por trás a artista mineira Rivane  Neuenschwander. Disponível em:(@rivaneneuenschwander)

Essa diversidade de pontos de vista pode ser entendida também como fragmentos que compõe territórios, potencialidades e possibilidades.

Campbell continua afirmando que

 

“A dinâmica das diferentes realidades sociais está impressa nas obras, como os contextos específicos modificam a realidade dos trabalhos produzidos e suas formas de circulação e fruição.” (CAMPBELL, 2015, p.12).

 

Afirma ainda que

 

“A diversidade de pontos de vista e abordagens constitui um interessante acervo de possibilidades e potências para se ampliar, crítica e poeticamente, a percepção da arte no mundo contemporâneo.” (CAMPBELL, 2015, p.12).

 

E assim como podem ampliar a percepção da arte, podem ampliar também a percepção da arquitetura sobre o território. Essa diversidade de pontos de vista pode ser entendida também como fragmentos que compõe territórios, potencialidades e possibilidades. Bourriaud afirma que

 

“O ponto em comum das obras de arte reside em sua faculdade de produzir o sentido da existência humana (de indicar trajetórias possíveis) dentro desse caos que é a realidade” (BOURRIAUD,2009, p.74). 

E essa capacidade de indicar trajetórias possíveis é imprescindível para a produção do espaço comprometida com o coletivo.

Segundo Campbell essa característica conduz a criação de novos imaginários e possibilidades de vida:

 

“é papel fundamental da arte nos levar a tocar em diferentes assuntos, esferas, áreas do conhecimento, percepções sensíveis, fora e dentro do trabalho de arte, num trânsito rico em possibilidades, que conduzem à criação de ambientes criativos e à experimentação de novos imaginários” (CAMPBELL, 2015, p.13).

 

Desse modo, é possível entender que a arte e a arquitetura se unem também nessa característica de mediador capaz de criar possibilidades de vida.

Essa característica é ampliada quando considera o coletivo e a amplitude da diversidade de percepções, realidades e vivências

Essa característica é ampliada quando considera o coletivo e a amplitude da diversidade de percepções, realidades e vivências dos artistas e arquitetos. Por essa razão esse trabalho vai se debruçar, na segunda parte, no levantamento do pensamento e das práticas artísticas espaciais e relacionais da comunidade queer em BH dos últimos anos. Para ampliar o espectro de pontos de vista sobre as questões abordadas pelo trabalho.

 

Campbell afirma que

 

“Analisando os processos criativos dos artistas, podemos entrar em contato com a forma como cada um entende e percebe o espaço público” (CAMPBELL, 2015, p.12).

 

Ou seja, os diversos entendimentos e pontos de vista sobre o território (espaço público).

davi de jesus do nascimento - singra.png

Singra, Davi de Jesus do Nascimento. Festival Seres-Rios do BDMG Cultural. Imagem disponível em: (@nasceumdavi)

 
A PROPOSTA: "no concorrer de quatro sóis seguidos, construímos um barco à vela para singrar o jejum de meu pai das águas com vento. desembrulhamos de dentro do coité torado de nosso quintal o desejo-desenho de fincar vela e escolher um tiquim de rio para velejar. perto mesmo donde com poucos passos sentimos o cheiro da cozinha de casa brigando com as panelas e a ponta da vela abre tantencima quantembaixo. para remolhar o fôlego seco e abafado da calafetagem do corpo-embarcação, a água áspera de meu pai encharca raso o teto da pedra quando estia. quando a gente desenha junto ele assina rio canoa. e enquanto ele serra, eu serragem ou carranca pulva xibunga."

"butuca (foto e vídeo): @caioesgario

marcenaria, desenho e feitura do barco, vela e singra: david nascimento

ajudante de marcenaria: davi de jesus do nascimento

pôr do barco n’água: moranga

pra quem quiser assuntar singra - nossa embarcação para o festival seres-rios - tá disponível aqui ó: seresrios.org/davi-de-jesus-do-nascimento"

DAVI DE JESUS DO NASCIMENTO: "quando nasci alevim, em 1997, no fulgor norte-mineiro, banharam-me com o mesmo nome de meu pai, Davi de Jesus do Nascimento. sou barranqueiro curimatá, arrimo de muvuca e escritor fiado. gerado às margens do Rio São Francisco – curso d’água de minha vida – trabalho coletando afetos da ancestralidade ribeirinha e percebendo “quase-rios’’, no árido. fui criado dentro do emboloso da cumbuca de carranqueiros, pescadores e lavadeiras. o peso de carregar o rio nas costas bebe da nascente dos primeiros sóis que chorei na vida. sustentar na cacunda a carranca tem feito eu sentir a força do vento de minha taboca envergada no seguimento da rabiola solta que desceu em espiral gongo caracol envoltório para o calcanhar direito como cobra, isca, peixe e pedra."

E essa capacidade de indicar trajetórias possíveis é imprescindível para a produção do espaço comprometida com o coletivo. Campbell corrobora com essa visão ao afirmar que

 

“Imaginar - criar - recriar são partes comuns de uma mesma ação, que apontam para a necessidade de se transformar subjetivamente os espaços, pois, uma vez que somos nós quem fazemos as cidades, temos o direito a transformá-las. A arte muitas vezes não causa mudanças concretas na realidade, mas desenvolve um projeto político e ético na medida em que pode inspirar essas mudanças. Nesse caso, inspira processos de discussão crítica sobre o real significado da esfera pública e da segregação social.” (CAMPBELL, 2015, p.33).

castiel - corpo-flor.jpg

Obra: "Corpo-flor", Série fotográfica, Castiel Vitorino Brasileiro, Vitória, 2016—2020. Disponível em: foto_corpoflor - castielvitorinobrasileiro

©  HORIZONTES IM/PROVÁVEIS  - EDUARDO GARCIA - 2022

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