top of page

ESTÉTICA RELACIONAL

BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Martins, 2009.

ESTETICA RELACIONAL.png

SÍNTESE PESSOAL

BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Martins, 2009.

INTRODUÇÃO (p. 9-14)

O autor inicia afirmando que a arte contemporânea é muitas vezes incompreendida, e que a arte dos anos de 1960 já não são pertinentes. A arte contemporânea vem se desenvolvendo em razão de conceitos interativos, conviviais e relacionais. Em um meio em que o ser humano se encontra cada vez mais controlado e com o vínculo social deteriorado. O sujeito foi reduzido a consumidor de tempo e espaço em uma logica mercantil. A arte tenta fazer o inverso, construir pontes, conexões, vínculos, relações. Essa separação suprema do indivíduo no mundo contemporâneo, segundo o autor é o último passo a sociedade do espetáculo de Guy Debord. A questão hoje é: é possível gerar relações no mundo?

A FORMA RELACIONAL (p. 15-34)

AS PRÁTICAS ARTÍSTICAS CONTEMPORANEAS E SEU PROJETO CULTURAL: A modernidade política que nasce do iluminismo prega a emancipação social através do progresso da técnica e das liberdades e melhoria das condições de trabalho. O autor afirma que a arte hoje apresenta universos possíveis, ou deveria preparar e anunciar um mundo futuro. Prossegue afirmando que a humanidade devia aprender melhores maneiras de habitar o mundo ao invés de tentar construí-lo de uma ideia pré-concebida. AS obras de arte não buscam mais utopias, realidades imaginarias, mas buscam construir modos de existências ou maneiras de agir dentro da realidade atual. O artista vive em certo contexto dado pelo presente e deve aprender a usar dele para inventar o cotidiano e reciclar a cultura. Seria absurdo segundo o autor dizer que a arte contemporânea noção possui projeto político ou cultural.

A OBRA DE ARTE COMO INTERSTÍCIO SOCIAL: A arte relacional (opera no horizonte das interações humanas e seu contexto social) é uma inversão da arte moderna. A obra não é um espaço a ser atravessado, mas uma duração a ser experimentada, que se abre a discussão ilimitada. A arte sempre foi relacional em diferentes níveis.  Arte promove proximidade, estreita laços ao contrário da tv, literatura, cinema. A obra de arte representa um interstício social, termo de Marx para comunidades de troca não capitalista. A arte contemporânea quando explora a problemática das relações desenvolve um projeto político, pois a arte é um estado de encontro fortuito.

A ESTETICA RELACIONAL E O MATERIALISMO ALEATÓRIO: A estética relacional vem da tradição materialista ou aleatório e se constitui como uma teoria da forma e não da arte. Não é o fim da arte, sendo definida como um encontro fortuito duradouro de elementos separados, de modo que cada obra é um modelo viável de mundo.

A FORMA E O OLHAR DO OUTRO: A arte contemporânea importa mais as “formações” do que as “formas” pois encontra sua forma no encontro fortuito e nas relações que gera. O autor afirma que a essenca da prática artística estaria na invenção das relações entre sujeitos e mundos, sendo cada obra uma proposta de habitação de um mundo em comum. E termina comparando a forma do rosto a responsabilidade com o outro, e que a socialidade consiste no reconhecimento do outro e não da competição, que é a lógica capitalista.

A ARTE DOS ANOS 1990 (p. 35-56)

PARTICIPAÇÃO E TRANSITIVIDADE: A participação do espectador tornou-se constante na arte contemporânea desde os inícios dos happenings e performances. Hoje com as novas tecnologias a “sociedade do espetáculo” estaria se transformando em “sociedade dos figurantes” com a ilusão de uma democracia interativa. A arte contemporânea seria o lugar onde as relações entre pessoas, sociedade, artista, mundo se fabricam. O autor afirma que a própria história da arte poderia ser vista como a história da produção de relações com o mundo. Hoje o interesse maior é justamente nessa invenção de modelos de socialidade.

TIPOLOGIA: CONEXOES E PONTOS DE ENCONTRO: A arte contemporânea ao contrário da modernista opera pela não disponibilidade das obras que se apresenta na sua própria temporalidade.

CONVÍVIO E ENCONTROS CASUAIS: as utopias sociais deram lugar as microutopias cotidianas. Uma obra de arte pode funcionar como um dispositivo relacional que provoque encontros, a questão seria testar a capacidade de resistência da arte no campo social. Cita Guattari que afirmava o papel fundamental de organizações sociais como comitês de bairro, organizações autogeridas, manifestações da coletividade. Essa seria a crítica e a subversão da arte contemporânea, inventar linhas de fuga para o indivíduo e a coletividade.

COLABORAÇÕES E CONTRATOS: Há obras de arte: momentos de socialidade; objetos produtores de socialidade.

RELAÇÕES PROFISSIONAIS: CLIENTELAS: o artista extrai formas nas práticas de exploração do vínculo social.

COMO OCUPAR UMA GALERIA? Ocupar, morar, habitar e trabalhar na galeria.

OS ESPAÇOS-TEMPOS DA TROCA (p.57-68)

AS OBRAS E AS TROCAS: a arte através de seus contratos sociais ocupa um lugar na produção coletiva e possui a qualidade da transparência social pois se abre ao diálogo e a negociação inter-humana. O artista produz, antes de tudo, relações entre pessoas e o mundo através de objetos estéticos.

O TEMA DA OBRA: Os temas da arte contemporânea e da arte relacional são os variados, unindo-se na esfera das relações humanas, inventando socialidades alternativas. O autor afirma que não é mais tempo de manifestos e apelos, é tempo de viver o agora, apresentando novas possibilidades de vida e coexistências, construindo espaços concretos.

ESPAÇOS-TEMPOS NA ARTE DOS ANOS 1990: Os artistas relacionais fundamentam seus trabalhos de um ponto de vista tripo: estético, histórico e social.

 

CO-PRESENÇA E DISPONIBILIDADE: A HERANÇA TEÓRICA DE FELIX GONZALEZ-TORRES (p. 69-90)

A HOMOSSEXUALIDADE COMO PARADIGMA DA COABITAÇÃO: O autor traz a obra de Gonzalez-Torres pois acredita na sua força para instrumentalizar formas. A homossexualidade para ele é uma dimensão emocional, uma forma de vida criadora e um modelo de vida a ser compartilhado por todos, de modo que possam se identificar. Seu trabalho baseia-se na intersubjetividade e no espaço das relações-humanas.

 

FORMAS CONTEMPORANEAS DO MONUMENTO: A interseção das obras de arte está na sua capacidade de produzir o sentido da existência humana em meio ao caos da realidade e indicar trajetórias possíveis. A imaterialidade da arte vem da priorização do tempo e não do espaço.

 

O CRITÉRIO DE COEXISTÊNCIA (AS OBRAS E OS INDIVÍDUOS): O autor destaca a importância da negociação, da coabitação e de uma ética do observador que traz consciência do contexto. E destaca indagações se a obra permite o espectador de existir ou o nega, se corresponde as mesmas aspirações ou se critica o mesmo que o espectador. E termina afirmando que formas induzem modelos de socialidade.

 

A AURA DAS OBRAS DE ARTE DESLOCOU-SE PARA SEU PÚBLICO: Ao publico é conferido papel principal na obra de arte contemporânea, que busca retomar a ideia da pluralidade, modos de estar juntos além da individuação crescente. E termina afirmando que a aura da arte contemporânea é uma “associação livre”

 

A BELEZA COMO SOLUÇÃO? O autor critica fortemente uma retomada do conceito de beleza, pois entende que esse, baseado em noções de eficácia e prazer seria reacionário e autoritário, mas entende quando o argumento é a venda, pois a beleza vende mais na logica capitalista.

RELAÇÕES-TELA (p. 90-110)

A ARTE DE HOJE E SEUS MODELOS TECNOLÓGICOS: Cita as desigualdades tecnológicas no mundo e uma independência da arte em relação ao avanço da tecnologia. E fala da tela como forma terminal que sintetiza propriedades e potencialidades.

A ARTE E OS EQUIPAMENTOS / A LEI DE DESLOCALIZAÇÃO: da qual a arte tem um dever crítico diante da técnica, sem aceitá-la como instrumento ideológico.

 

A TECNOLOGIA COMO MODELO IDEOLOGICO (DO TRAÇO AO PROGRAMA): O autor cita Nietzsche para defender que a arte deve usar dos hábitos perceptivos e comportamentais criados pelo mundo da técnica para transformá-los em possibilidades de vida. Subvertendo a ordem da técnica e ativar a capacidade de pensar, através de modelos de socialidade.

A CAMERA E A EXPOSIÇÃO / A EXPOSIÇÃO-CENÁRIO: é na década de 1960 que ocorre a passagem da exposição-vitrine para a exposição-cenário. A obra passa a ser uma duração a ser atravessada.

A ARTE DEPOIS DO VÍDEO / REWIND/PLAY/FAST FORWARD: O vídeo se tornou grande aliado pela praticidade na manipulação das imagens e formas artísticas.

RUMO A DEMOCRATIZAÇÃO DOS PONTOS DE VISTA? Afirma que o vídeo possibilitou uma democratização da produção de imagens. O ponto negativo é a vigilância e controle crescentes. E reafirma que a técnica nunca deve ser tema para a arte.

PARA UMA POLÍTICA DAS FORMAS (p. 111-146)

COABITAÇÕES/ NOTAS SOBRE ALGUMAS EXTENSÕES POSSIVEIS DE UMA ESTETICA RELACIONAL / SISTEMAS VISUAIS / A IMAGEM É UM MOMENTO: E toda imagem viva é uma possibilidade de vida.

O QUE MOSTRAM OS ARTISTAS: A realidade é um produto de negociação e o sentido é um produto da interação entre artista e espectador.

OS LIMITES DA SUBJETIVIDADE INDIVIDUAL: O autor destaca aqui que a ideologia dominante deseja que o artista fique sozinho, solitário em uma recusa do coletivo.

A ENGENHARIA DA INTERSUBJETIVIDADE: destaca uma frase de Marx na qual afirma que a realidade é o resultado do que fazemos juntos enquanto coletividade e inter-relações.

UMA ARTE SEM EFEITO? O autor justifica as criticas a arte relacional por estar em ambientes elitizados que em teoria negariam os conflitos, e a interação social, defendendo que essas práticas devem ser julgadas formalmente, pois visam construir espaços-tempos não alienantes.

O FUTURO POLÍTICO DAS FORMAS: Segue afirmando que já temos projetos políticos demais e o que faltaria seria justamente as formas capazes de realizá-los. De modo que a forma produz o sentido, orientando-o na vida cotidiana. Exemplo de formas seriam as assembleias, manifestações, greves... E termina questionando a não valorização do tempo livre, a desvalorização do trabalho e a transformação das relações e dos seres em produtos.

REABILITAR A EXPERIMENTAÇÃO: A democracia vive através da experimentação e da liberdade

ESTÉTICA RELACIONAL E SITUAÇÕES CONSTRUÍDAS: O autor destaca um conceito situacionista em que interessa a troca da representação artística pela experimentação da energia artística nos ambientes do cotidiano. A prática artística é sempre a relação com o outro e ao mesmo tempo com o mundo. Mas deixa claro que a prática relacional atualiza e reconcilia o situacionismo com o entendimento de arte atual.

O PARADIGMA ESTÉTICO (Félix Guattari e a arte): O autor aqui introduz um pouco mais as ideias de Guattari acerca da arte, da qual aborda mais o paradigma estético do que propriamente a arte. Continua confirmando o crescente papel da subjetivação guattariana na arte e filosofia contemporânea, pela sua atenção a produção de subjetividade.

A SUBJETIVIDADE CONDUZIDA E PRODUZIDA / DESNATURALIZAR A SUBJETIVIDADE: A subjetividade é para Guattari a pedra que sustenta o edifício social e fio condutor de suas pesquisas. E afirma que a arte é a invenção de possibilidades de vida e sua finalidade é a individuação.

ESTATUTO E FUNCIONAMENTO DA SUBJETIVIDADE: A subjetividade de Guattari é entendida como uma ordem caótica. O autor continua dissertando acerca dos pensamentos de Guattari citando alguns como o de re-singularizaçao para superar a ideologia, da alienação da subjetividade e define subjetividade como as condições que permitem a existência de instancias individuais e coletivas como território existencial autorreferente. Ou seja, a subjetividade só existe junto a outras. Continua afirmando que a existência é como uma rede de interdependência, uma ecologia, a arte seria uma placa de sensibilidade parte de um sistema global.

AS UNIDADES DE SUBJETIVAÇÃO: Guattari, segundo o autor, nega a noção romântica do artista gênio, criador divino e o percebe mais como um operador de sentido. E afirma a concepção transversalistas da criatividade. Essa afirmativa provoca a destruição da noção de estilo, assinatura, marca, fator de homogeneização e retificação dos comportamentos, que se tornam produtos. Termina sugerindo que o estilo deveria ser menos uma repetição e mais um movimento do pensamento, processos de heterogênese. Esse é o princípio da ecosofia mental, articular universos, seres, diferenças e cultivá-las. É preciso uma transformação ecológica das subjetividades que são todas interdependentes.

O PARADIGMA ESTÉTICO / A CRÍTICA DO PARADIGMA CIENTIFICISTA: A ecosofia de Guattari se contrapõe a hegemonia do pensamento científico, defendendo que as teorias e conceitos possuem apenas um valor enquanto modelo de subjetivações, e que nenhuma certeza é irrevogável. O que importa mais é o processo. Guattari quer tirar as ciências sociais e humanas do paradigma cientificista para um paradigma ético-estético.

O REFRÃO, O SINTOMA E A OBRA: A arte para Guattari seria como traçar textos no caos, interpretar e avaliar, captar componentes variados da subjetividade e orientá-los em uma direção, enfim a arte é uma catalisadora de subjetividade. Se o capitalismo integrado transforma os territórios existenciais em mercadorias, esvaziando a subjetividade, cabe a arte recompor esse vazio. Em última instancia o pensamento guattariano busca a cura dos efeitos terríveis da homogeneização, da violência capitalista, da repressão dos dissensos.

A OBRA DE ARTE COMO OBJETO PARCIAL: A obra de arte materializa territórios existenciais, sendo vetor de subjetivação, podendo operar bifurcações na subjetividade, levando-a a outras possibilidades existenciais. Esse processo fluido de transferência de subjetivação é chamado de teoria transicional da obra de arte.  Nesse aspecto a sobras não podem ser mais categorizadas como produtos, as pinturas, esculturas, instalações transformam-se em superfícies, volumes, dispositivos.

PARA UMA PRAXIS ARTISTICO-ECOSÓFICA: A ecosofia é uma articulação ético-política entre o ambiente, o social e a subjetividade. Pretende reconstruir um território existencial perdido pela destruição imposta pela desterritorialização do CMI. A ecosofia baseia-se nas noções de globalidade e interdependência para reconstituir esses territórios a a partir da subjetividade.

A ORDEM COMPORTAMENTAL DA ARTE ATUAL: A ecosofia também considera a totalidade das existências anteriores na tentativa de recompor uma totalidade individual e coletiva perdida. Utiliza do tempo como material e produz gestos que prevalecem sobre as coisas. Criam módulos temporais catalisadores, onde o artista apresenta-se como um universo em constante transformação, em processo. Enfim, para Guattari a estética acompanha e altera o rumo das mutações sociais, assim como a poética recompõe universos de subjetivação. Práticas que ajudam a superar as provas da barbárie de nosso tempo e transmutá-las em riquezas.

NICOLAS BOURRIAUD

©  HORIZONTES IM/PROVÁVEIS  - EDUARDO GARCIA - 2022

bottom of page